domingo, 23 de setembro de 2018

Profecção e Revolução Solar - Da Inevitável Sinergia à Eleição do Regente do Ano

Em sequência à postagem sobre a Firdaria,  abordarei a Profecção e a Revolução Solar. Estas duas técnicas preditivas formam, juntamente com a Firdaria, a tríade astrológica preditiva medieval. Comecemos então pela Profecção. Esta técnica é uma das mais simples e antigas da ciência astrológica e a sua aplicação deve ser feita em conjunto com a Revolução Solar. Na verdade, as duas técnicas são complementares e indissociáveis e pertencem à mesosfera hierárquica preditiva da Astrologia.
A Profecção, que pode ser depreendida como uma espécie de progressão, é realizada, de praxe, para o signo ascendente e possui a razão temporal de um signo avançado para cada ano de vida do nativo. Em termos práticos, se um determinado nativo possui o ascendente natal no signo de Áries, quando for completado o primeiro ano de vida, o ascendente profectado chega a Touro e assim avança sucessivamente pelos demais signos zodiacais. Outros pontos também podem ser profectados, como é o caso do meio do céu e da Parte da Fortuna. Mas, neste caso específico e devido a sua maior relevância e aplicabilidade, nos concentraremos na Profecção do ascendente natal.
A cada ano em que o ascendente se profecta e avança pelos signos do zodíaco, o Sol retorna ao mesmo grau, minuto e segundo que ocupava quando do nascimento. Quando isto ocorre, um mapa anual é gerado e recebe o nome de Revolução Solar. Esta técnica fotografa os trânsitos existentes no exato momento do regresso do Sol e realoca planetas em signos e casas astrológicas que podem ser iguais, distintos ou coincidir com a posição de outros planetas na natividade.
A Revolução Solar traz muitas informações e a filtragem é o primeiro trabalho do astrólogo ao utilizar esta técnica. É preciso aferir aquilo que realmente é importante para o nativo durante aquele ano astrológico. Sempre devemos ficar atentos à angularidade de planetas na Revolução Solar, pois nesta condição os significadores ganham poder de materialidade em termos de ocorrência de eventos.
É necessário verificar sempre os padrões de repetição que o mapa revolucional evoca no mapa natal. O astrólogo deve analisar se existem planetas que retornam as suas posições celestes ou terrestres natais no mapa revolucional, se estes astros repetem alguma configuração planetária por aspecto ou regência no mapa revolucional, bem como, se por sua localização no retorno solar ocupam o lugar que outro planeta ocupava no mapa natal. A este último fenômeno descrito damos o nome de ingresso.
A combinação da Profecção com a Revolução Solar é imprescindível. A partir da sinergia das duas técnicas astrológicas se chegará a um dos elementos mais importantes do ano astrológico para o nativo: a escolha do planeta regente do ano.
O processo de eleição do planeta regente do ano está longe de ser um tema pacificado na Astrologia e as controvérsias e discordâncias ocorrem frequentemente. Vamos supor que o ascendente profectado seja Libra. Neste caso, o planeta candidato natural a regente do ano é Vênus, pois Libra é o domicílio de Vênus.
Entretanto, outros fatores devem ser levados em consideração. Primeiramente, deve ser analisada a possível presença de planetas que ocupem o signo profectado no mapa natal. Igualmente, deve ser verificada esta mesma circunstância no próprio mapa da Revolução Solar.
Existem correntes de pensamento astrológico que aconselham que seja eleito, como planeta regente do ano, o astro que por ventura ocupe o signo ascendente profectado no mapa natal. Caso não exista nenhum planeta neste signo no mapa natal, verifica-se a presença de planetas neste signo no mapa revolucional. Caso algum planeta ocupe o signo ascendente profectado durante a Revolução Solar, ele poderá ser eleito regente do ano.
Em ambas as situações, no mapa natal e radical, haverá a possibilidade de dois ou mais planetas ocuparem o signo pelo qual a profecção do ascendente chega. Nestes casos, existem elementos de desambiguação para que o astrólogo proceda à eleição. Os planetas que estiverem mais próximos do grau ascendente profectado tem preferência, bem como, aqueles que gozam de dignidade celeste neste local e lancem, seja na natividade ou na Revolução Solar, o seu testemunho sobre o signo cuja profecção do ascendente se estabelece.
A minha opinião leva em consideração, de forma preponderante, o conceito de regência e domínio para que o planeta regente do ano seja eleito. Não concebo como admissível que um planeta que não possui relação alguma de domínio sobre o signo ascendente profectado, em pior hipótese, experimentando estado de contrariedade maior em sua posição celeste, seja pela condição de exílio ou queda, seja escolhido para governar o ano.
Lembro sempre o exemplo daqueles, que assim como eu, possuem Júpiter no signo ascendente. Pelo ciclo orbital de Júpiter, este planeta sempre estará posicionado no signo ascendente profectado ao longo de pelo menos três de seus ciclos revolucionais, aproximadamente. Considerando que existe uma tendência de haver o posicionamento de planetas natais em uma porção inferior à metade dos signos zodiacais, seria extremamente errado pensar que em mais da metade dos anos vivenciados por estes nativos Júpiter assumiria a regência do ano por ocupar o signo da profecção do ascendente, ainda que não goze de dignidade alguma neste lugar. Este exemplo é bastante contundente.
Entendo como precípua a condição de domínio sobre o signo ascendente profectado para que o astro se sagre eleito como regente do ano, sendo esta relação denotada pela regência domiciliar ou por exaltação, prioritariamente. Para efetuar a eleição em possíveis casos nos quais dois planetas postulantes a regente do ano estejam fortificados na natividade ou no retorno solar, deve ser escolhido aquele planeta que agregar o maior número de testemunhos favoráveis a sua eleição, seja pelo grau mais elevado de dignidade celeste, pela proximidade ao grau do signo ascendente profectado, pela manutenção de testemunhos ao signo ascendente profectado, ou por sua posição mais destacada nas cartas analisadas.
Exemplificando, de uma forma mais didática, o planeta regente do ano deve ser eleito com a observância dos seguintes critérios técnicos:

1 - Verifique o planeta que rege o signo ascendente profectado por dignidade celeste de domicílio;
2 - Verifique o planeta que rege o signo ascendente profectado por dignidade celeste de exaltação;
3 - Analise, no mapa natal e no retorno solar, qual dos dois planetas mencionados acima está mais fortificado, na seguinte ordem hierárquica de testemunhos:

a) O planeta ocupa o signo ascendente profectado, gozando de maior dignidade celeste nesta posição, preferencialmente;
b) O planeta aspecta o signo ascendente profectado, possuindo maior dignidade celeste em sua posição, preferencialmente;
c) O planeta faz conjunção ou aspecta o grau do signo ascendente profectado com maior exatidão, possuindo maior dignidade celeste em sua posição, preferencialmente;
d) O planeta ocupa uma casa angular ou mais fortificada do que seu concorrente;
 e) O planeta, por sua posição terrestre, está elevado acima do seu concorrente.

Para todos os itens acima elencados, deve ser dada a prioridade de ocorrência do testemunho no mapa natal e, após, no mapa revolucional. Quando o testemunho se repete em ambas as cartas astrológicas, o significador torna-se extremamente potencializado, fato este que poderá contribuir definitivamente para a sua eleição como planeta regente do ano. Em caso de testemunhos divididos, a preferência de escolha sempre recai sobre o regente domiciliar, quando comparado ao planeta que rege o signo por exaltação.
Os critérios técnicos tem o intuito de selecionar o planeta que está em melhores condições de sustentar o ano ao nativo. Apesar desta intenção, é bastante comum que nenhum dos planetas postulantes à eleição esteja em bom estado cósmico ou ainda haja a condição de aversão, isolada ou combinada, dos planetas que postulam a regência do ano, fato este que pode culminar, se não houver testemunhos favoráveis, em um mau ano para o nativo.
Ainda que eu entenda como fundamental a relação de regência sobre o signo profectado, a posição de um ou mais planetas neste signo no mapa natal ou no mapa revolucional, ainda que não gozem de dignidades neste local, sempre afetará o andamento do ano de alguma forma, conforme a natureza essencial do planeta e sua determinação radical e revolucional no período. Do mesmo modo que é dada a preferência aos planetas que regem o signo profectado por domicílio e exaltação, aqueles que são senhores de dignidades menores combinadas, caso da triplicidade e do termo, por exemplo, não podem ser desprezados se possuírem testemunhos fortes que evoquem a sua eleição em circunstâncias singulares.
A decisão final, observadas todas as particularidades astrológicas pertinentes, caberá sempre ao astrólogo. O regramento é uma ferramenta que deve auxiliar o profissional de Astrologia para proceder à eleição. Ressalto, ainda, que as regras que proponho aqui não têm a pretensão de se sobreporem a outros regramentos astrológicos já estabelecidos por outros astrólogos. A ideia aqui é semear o novo, sintetizar o saber através das minhas reflexões elaboradas durante muito tempo, sem ferir os princípios que embasam e norteiam a ciência astrológica.
Com o intuito de ampliar a didática deste procedimento de eleição, vamos a um exemplo mais prático, através da análise de uma carta natal e um mapa de Revolução Solar pertinente, com a Profecção aplicada e combinada. Segue abaixo os mapas astrológicos para avaliação:



A primeira carta apresentada é o mapa natal e a segunda se trata do mapa de Revolução Solar que tem o seu início no mês de abril de 2017, no aniversário do nativo, que é do sexo masculino. O nativo possui ascendente em Escorpião e, no ano analisado, este ascendente se profecta para o signo de Câncer, na sua trigésima segunda profecção.
Aqui já podemos vislumbrar uma interessante e poderosa sinergia, quando agregamos o estudo da Profecção com a Revolução Solar. O ascendente profectado é Câncer, mesmo signo que aparece no ascendente do mapa do retorno solar. Este testemunho acaba por elevar os temas que correspondem ao signo, casa e seus planetas regentes no mapa natal e no mapa revolucional.
Câncer ocupa a casa IX natal e não há nenhum planeta posicionado neste signo no mapa natal. No mapa de Revolução Solar, Câncer está no ângulo ascendente e não há planetas ocupando este signo zodiacal, igualmente.
O signo de Câncer tem como o seu regente domiciliar a Lua e Júpiter por exaltação. No mapa natal, a Lua está em Capricórnio e aspecta o seu signo através de uma oposição. Em Aquário, Júpiter não enxerga o signo de Câncer no mapa radical. No mapa revolucional, Lua e Júpiter formam uma conjunção no signo de Libra, na casa III, e aspectam o signo profectado através de uma quadratura.
O signo ascendente profectado ainda recebe os testemunhos do Sol, por quadratura, a partir de sua posição em Áries e na casa IX, de Vênus, através de um trígono a partir de sua colocação no signo de Peixes, na casa VIII e de Marte, desde o seu local no signo de Touro, na casa XI, sendo todas estas posições correspondentes ao mapa do retorno solar.
Sendo estes os testemunhos, vamos ao processo de eleição. Os planetas que postulam tal posição são a Lua e Júpiter. Nenhum dos dois astros ocupa o signo de Câncer, seja no mapa natal ou no mapa revolucional. Por aspectar o signo de Câncer no mapa natal e no mapa revolucional, a Lua ganha pontos a mais do que Júpiter neste momento. Júpiter aspecta o grau do signo ascendente profectado com maior exatidão. Leve vantagem para Júpiter aqui. Júpiter ocupa uma casa angular no mapa natal e uma casa cadente no mapa revolucional. A Lua ocupa em ambas as cartas uma casa cadente. Outra vantagem para Júpiter. A Lua está elevada acima de Júpiter no mapa natal e levemente mais elevada na carta revolucional acima de Júpiter. Pontos para a Lua.
Como pode ser aferido, os testemunhos levam ora a um e ora a outro astro. Não há vantagem explícita e clara. No caso apresentado, elejo a Lua como planeta regente do ano. Por se tratar do planeta regente por exaltação e agregar importantes testemunhos no processo eletivo, elejo Júpiter como planeta Co-Regente do ano. Estes dois astros trarão significância e materialidade ao ano, em termos de eventos.
A preferência pela Lua, enquanto astro eleito para governar o ano, foi calcada, observada uma disputa equilibrada pela eleição, na sua condição de regente domiciliar do signo ascendente profectado. Conforme já abordado, o planeta que possui dignidade de domicílio tem preferência sobre aquele que dignifica-se neste local por dignidade de exaltação, em disputas equilibradas.
No ano em análise, o nativo completava seus 32 anos de vida e iniciava o período da Firdaria de Marte, astro este que é o próprio planeta regente do ascendente da natividade. Marte, que no mapa radical está angular e em detrimento no signo de Touro, na casa VII, retorna ao seu signo natal e ocupa novamente uma casa angular, desta vez a casa X.
Conforme já explanado, o ascendente profectado chega à casa IX radical e este mesmo ascendente se repete no principal ângulo do mapa da Revolução Solar. A Lua, planeta regente do ano, dispõe de Marte por exaltação, no mapa natal e no mapa revolucional.
Júpiter, planeta co-regente do ano, está posicionado na casa IV natal. No mapa de retorno solar, Júpiter recebe a conjunção da Lua, sendo que ambos os planetas ocupam a casa III revolucional. Júpiter rege a casa V natal, tema este que atualiza por regência na Revolução Solar. Convém ressaltar que Júpiter rege a Parte da Fortuna no mapa natal, que está posicionada no signo de Peixes e na casa V radical.
Após aferidos os testemunhos, podem ser identificadas algumas importantes particularidades para o período em questão. A dupla ativação do ascendente, pela Profecção e pela Revolução Solar, no signo de Câncer traz elevada importância para a Lua e Júpiter durante o período. O ascendente, profectado e revolucional, em signo extremamente fértil eleva a fertilidade para o nativo. A ativação de dois astros que propiciam a geração de filhos e que versam essencialmente sobre fertilidade e crianças corrobora com a realização deste tema natal. Júpiter, ao co-reger o ano, aliar-se à Lua e atualizar a sua determinação sobre a casa V, ao regê-la no mapa revolucional, conforme o faz no mapa natal, favorece e muito a fertilidade e a geração de crianças.
No mês de maio, do referido ano, o nativo descobriu que seria pai. Este fato veio a concretizar-se no mês de março do ano subsequente, dentro do período de regência anual da Lua, com a co-regência de Júpiter.
Este frutífero período ainda reservou um outro evento muito positivo. Um pouco antes de receber a notícia de sua paternidade, o nativo foi nomeado e empossado em outro cargo público para o qual aguardava acesso, aumentando a sua renda familiar.
Marte, planeta senhor da Firdaria e regente maior do nativo, retornava a sua posição celeste radical, no signo de Touro, ocupando a casa X da Revolução Solar. De fato, o nativo agiu com muita autonomia e tomou decisões que permitiram optar por este novo emprego, ainda que o conduzisse a uma nova situação laboral, cheia de incertezas e perpassando novamente por um período probatório de estágio.
Ao ocupar o signo de exaltação da Lua, Marte significou a atitude firme no sentido de buscar o aumento da prosperidade material. A Lua, posicionada na casa II natal, fala de seu testemunho acerca das finanças. Júpiter, por sua vez, sendo um astro benéfico e senhor da Parte da Fortuna natal, acabou por materializar a melhora das condições financeiras e também a marca da sorte geral para o ano, enquanto astro benéfico maior que é.
Chega ao fim este estudo acerca da Profecção e da Revolução Solar, com a combinação essencial da Firdaria. Nesta postagem foi possível esclarecer os principais pontos que norteiam a interligação destas técnicas preditivas, que formam, conforme exposto no início deste artigo, a tríade astrológica preditiva medieval. A exposição do rito de eleição do planeta regente do ano visa o convite à reflexão deste processo, bem como, a proposição de um regramento mais acessível para estudantes e astrólogos que buscam informações sobre este tema e não obtém sucesso para encontrar artigos que lhes orientem de maneira clara e precisa. Espero ter atingido estes objetivos. Até breve leitores!


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