quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A Grande Conjunção Júpiter-Saturno de 2020

No dia 21 de dezembro de 2020, às 15h20min, ocorreu a conjunção exata entre Júpiter e Saturno no primeiro grau do signo de Aquário. Os dois cronocratas se uniram neste signo de ar e marcaram a troca definitiva da triplicidade das grandes conjunções. Em 31 de dezembro de 1980, a Grande Conjunção ocorreu em Libra, abrindo um novo ciclo de conjunções no elemento ar. Em 28 de maio de 2000, o encontro se deu em Touro, retornando à triplicidade de terra. A conjunção do ano de 2020 retorna ao elemento ar e assim permanece até o ano 2219, quando Júpiter e Saturno formarão uma conjunção em Escorpião, abrindo o próximo ciclo conjuncional de água.

A conjunção Júpiter-Saturno de 2020 representa a consolidação dos processos iniciados na configuração de 1980, brevemente interrompidos pelas duas décadas que estiveram sob a égide do elemento terra. Classicamente, observando os escritos de Abu Ma’shar e William Ramesey, a mudança de triplicidade dos ciclos conjuncionais de Júpiter e Saturno costuma estar associada a uma série de eventos mundanos da maior relevância. Quedas e ascensões de dinastias, mudanças de direcionamento do poder e, no caso especial da triplicidade de ar, às pandemias que assolam a humanidade.


Obra "Jupiter Releasing Saturn" de Giovanni Francesco Romanelli, 1632-1633.

Realizando um breve histórico dos últimos ciclos conjuncionais dos dois grandes cronocratas, podemos resgatar algumas interessantes particularidades em seus eventos. As Grande Conjunções nos signos de fogo, dos séculos XVII e XVIII, parecem estar ligadas à queda do Absolutismo na Europa, à constituição dos primeiros Estados Nacionais modernos e aos seus processos revolucionais. Falo de Inglaterra e França. O período de conjunções Júpiter-Saturno nos signos da triplicidade de água marcou as grandes navegações ao longo dos séculos XV e XVI. Homens ao mar e expansão do mundo conquistado.

O último ciclo conjuncional Júpiter-Saturno em signos de ar, nos séculos XIII e XIV, foi marcado pelo êxodo rural, constituição e desenvolvimento de novas cidades, decadência do sistema feudal e pela maior pandemia de todas, a da peste negra. Duas pandemias já podem ser facilmente associadas ao novo ciclo de ar. A pandemia de HIV-AIDS começou em 1981, logo após a primeira conjunção neste elemento. No ano da troca definitiva da triplicidade, 2020, enfrentamos a grande pandemia de COVID-19. É interessante ressaltar que a primeira pandemia está longe de ser resolvida e segue avançando silenciosamente. A nova enfermidade é mais rápida e violenta, mas já há grandes avanços no desenvolvimento de vacinas e programas de imunização mundo afora.

A humanidade deverá estar preparada para estas ameaças a nossa existência ao longo deste ciclo de ar, que perdurará por mais dois séculos. Em um mundo cada vez mais populoso e aglomerado em imensas metrópoles, com severo impacto ambiental, destruição de biomas e coexistência mais próxima e inédita com outras espécies, a deflagração de novas enfermidades e pandemias mais perigosas deve gozar de máxima precaução. Este é um grande alerta para o ciclo conjuncional Júpiter-Saturno nos signos de ar.

Outra revolução bastante palpável, que nasceu sob a égide da conjunção Júpiter-Saturno de 1980, se refere à gênese e ascensão da internet e de toda a tecnologia informacional que vem tornando o mundo cada vez mais acelerado e multiplamente conectado nas últimas décadas. Durante a pandemia em curso, a virtualidade tomou maior corpo. Amizades e reuniões à distância. O HomeOffice veio para ficar e não haverá retrocedimento neste processo. Novas relações de trabalho, limites entre trabalho e descanso, extinção e criação de novos ofícios, inteligência artificial, ambiente financeiro virtual. Tudo isto está à mesa, em um processo de expansão e consolidação com velocidade maior do que costumávamos vislumbrar.

Gostaria de tocar também no tema das relações de poder internacionais. A conjunção Júpiter-Saturno de 1980 abriu a década que culminou com o final da Guerra Fria, com a queda da União Soviética e do bloco de países socialistas do leste europeu. Se instaurava a suposta Nova Ordem Mundial, multipolar e capitaneada pelos Estados Unidos. Todavia, algumas relações mais profundas aconteciam à margem do conflito que nunca ocorreu. Desde a década de 1970, em sua diplomacia triangular, os Estados Unidos se aproximaram da China, visando impedir uma reaproximação entre as potências comunistas continentais. À medida que desmoronava o segundo mundo socialista, a China fortalecia os seus motores e, aos poucos, se tornava a fábrica global.

Aparentemente, os Estados Unidos venceram o urso, mas ajudaram a fortalecer o dragão que, no futuro, iria lhe impor oposição e cheque. Na iminência da pandemia de COVID-19, Estados Unidos e China já travavam uma guerra comercial e econômica. Primeira e segunda economias do mundo, respectivamente. O desastre sanitário de 2020 acabou por colocar os Estados Unidos em uma posição de maior vulnerabilidade, enquanto a China, apesar do desgaste internacional inicial, parece ter saído geopoliticamente mais forte. Ascensão e queda de potências, novas dinastias, novos direcionamentos globais de poder. Os mestres já haviam alertado. Bom ou mau, não me parece justo – e nem sábio – qualificar desta forma as mudanças que estão ocorrendo.

Agora, nos debrucemos rigorosamente sobre a técnica astrológica mundana. Para os autores clássicos, existe uma hierarquia solidamente estabelecida para a interpretação e julgamento das conjunções – não apenas a Grande Conjunção, mas todas as demais. No que concerne às conjunções Júpiter-Saturno, a principal delas é a que ocorre em Áries, abrindo o ciclo da triplicidade de fogo, no primeiro signo zodiacal, o ascendente mundano. Também são mais relevantes as conjunções de Júpiter e Saturno quando há troca de elemento e se abre um novo ciclo de uniões. William Ramesey, em sua obra “Astrology Restored” relata como exemplo as Grandes Conjunções ocorrendo no primeiro grau ou no primeiro termo de um signo pertencente à nova triplicidade que abrigará as uniões subsequentes.

Em 1980, a conjunção Júpiter-Saturno se configura pela primeira vez em séculos em um signo de ar. Todavia, esta união não ocorreu no primeiro grau ou no primeiro termo do signo de Libra. A Grande Conjunção de 2020 cumpre com tais critérios, pois se deu no primeiro grau de Aquário. Ressalto, ainda, a singular proximidade dos dois grandes cronocratas na configuração, separados por alguns minutos de declinação na eclíptica. A olho nu, no dia 21 de dezembro, a Grande Conjunção parecia conceber a imagem de apenas um único astro. Em 1980, não houve tal proximidade. Com base em tudo que foi dito, me parece que a conjunção de 2020 pode ser mais importante em seus significados do que a sua antecessora, no mesmo elemento.


Carta da Grande Conjunção Júpiter-Saturno, 31/12/1980, Brasília-DF.

De acordo com os ensinamentos de Abu Ma’shar, a conjunção Júpiter-Saturno sempre é analisada em consonância com a carta do ingresso solar em Áries mais próximo. Chama a atenção, no caso da Grande Conjunção de 2020, o fato de sua perfeição ter se dado no dia do ingresso solar em Capricórnio. Penso que a comparação de tal configuração com a carta de ingresso citada é bastante pertinente no que se refere a prognósticos para os anos vindouros.

A carta do ingresso solar em Capricórnio, levantada para Brasília-DF, traz este mesmo signo cardinal no ascendente, com os dois cronocratas posicionados na primeira casa, à iminência de algumas horas da conjunção maior. Júpiter aparece elevado acima de Saturno em tal tema mundano e com maior latitude que o grande maléfico. Estas indicações poderiam nos levar a crer na possibilidade da preponderância de Júpiter sobre Saturno na conjunção.


Carta do Ingresso Solar em Capricórnio em 2020, Brasília-DF.

Todavia, não podemos esquecer que Saturno é o mais lento de todos os planetas e naturalmente domina os demais. A conjunção se dá na principal morada saturnina, que é Aquário. Saturno tem maiores dignidades essenciais no local da conjunção e a domina. Há, certamente, uma relação de maior equilíbrio entre os dois significadores. Em Capricórnio, a conjunção assinalaria para um domínio saturnino total, com detrimento do poder do grande benéfico.

A presença de Júpiter e Saturno nos ângulos é assinalada por William Ramesey como indicadora do aparecimento de novos reis e profetas, representados pela triplicidade do signo que abriga a conjunção. Esta indicação é mais verdadeira quando aparente na carta de ingresso solar em Áries, mas, devido à singularidade que une a Grande Conjunção e o ingresso solar em Capricórnio, não podemos desprezá-la

Podemos aventar a possibilidade de fortes mudanças nos eixos de poder por aqui nas próximas décadas. Novas dinastias, impérios caindo. Saturno é o planeta regente da casa II e promete grandes reformulações na esfera econômica nacional, afetando amplamente a vida da população. Saturno predomina sobre Júpiter, mas não está mal colocado. Entendo que estas mudanças não tendem ao ruim como um todo.

A carta do momento exato da conjunção, levantada para a capital do país, pode ser utilizada em caráter complementar e com a finalidade de aferir outras nuances da configuração. Encontramos referência a tal procedimento na obra de Mashallah, ainda que tal autor tivera predileção pela utilização das cartas de ingresso solar em Áries em sua prática, em consonância com os demais mestres. Embora a correção maior da técnica recorra sobre análise das cartas de ingresso, devemos lembrar que as cartas de eclipse solar evocam o momento exato da conjunção ou da oposição dos luminares, encontrando respaldo desde a obra de Ptolomeu.

A carta astrológica do momento exato da conjunção traz o ascendente em Touro, com os dois cronocratas posicionados na casa IX do tema. Aqui, podemos pensar em mudanças e reestruturações envolvendo as instituições jurídicas, a educação superior e os temas filosóficos e religiosos no país. Júpiter aparece mais elevado no céu do que Saturno novamente. Saturno é o senhor do ângulo precedente à união dos cronocratas. Júpiter governa os termos do meio do céu e do ascendente, bem como, o local da Lua. Por este viés interpretativo, também há a indicação de um pouco mais de equilíbrio de poder entre os dois grandes senhores do tempo.


Carta da Grande Conjunção Júpiter-Saturno, 21/12/2020, Brasília-DF.


Um outro tema de máxima relevância que estará sob a esfera de influência das mudanças representadas pela Grande Conjunção de 2020 para o Brasil se refere ao governo e ao poder. Saturno tem dignidade maior de exaltação sobre o meio do céu da carta do ingresso solar em Capricórnio. O mapa da conjunção partil de Júpiter-Saturno apresenta o meio do céu em Aquário, governado pelo grande maléfico. A carta do ingresso solar em Áries de 2021 traz os dois cronocratas na casa XI, com a décima casa novamente sob a senhoria de Saturno.


Carta do Ingresso Solar em Áries em 2021, Brasília-DF.

O assunto é bastante extenso e complexo, e por isso vou falar mais a respeito sobre ele, especialmente acerca da contextualização da conjunção Júpiter-Saturno na carta do próximo ingresso solar em Áries. Aproveito a oportunidade para anunciar a minha participação com um artigo sobre a Grande Conjunção de 2020 na Revista Astrolábio, da astróloga Nicole Zeghbi. A publicação ocorrerá no mês de março. Avisarei a todos aqui no blog. Até breve, leitores!


sábado, 9 de janeiro de 2021

Os Trânsitos do Céu de Janeiro de 2021

O céu deste início de 2021 já trouxe algumas mudanças. Após um período de aproximadamente seis meses em Áries, seu domicílio diurno, Marte ingressou em Touro, uma morada venusiana na qual experimenta a debilidade maior de exílio.

Em seu trânsito por Touro, Marte se aplica por quadratura aos dois grandes cronocratas. O mau aspecto com Saturno, sem recepção e envolvendo signos que formam contra-antíscia, indica a possibilidade de rupturas, protestos, violência e disputas pelo poder.

No dia em que Marte ingressou em Touro, tivemos o episódio da invasão do Capitólio nos Estados Unidos. O aspecto exato ocorre na próxima quarta-feira, dia 13 de janeiro. É bom tomar mais cuidado com acidentes e evitar intervenções cirúrgicas até que Marte vá para o grau subsequente à quadratura. Isto já ocorrerá na próxima sexta-feira, dia 15 de janeiro.

Na outra semana, Marte se lançará em direção à quadratura de Júpiter. Expansão do calor e da secura, belicosidade, militarismo. Na última vez que os dois planetas formaram uma quadratura partil, tivemos a grande explosão em Beirute, no Líbano. À época, Marte estava em Áries e Júpiter em Capricórnio. O aspecto agora não envolve a rapidez, a intensidade e a fluência da quadruplicidade cardinal. A configuração exata se dá no dia 23 de janeiro.

Os dois planetas inferiores também mudaram de signo. Mercúrio saiu de Capricórnio e foi para Aquário. Vênus deixou Sagitário e ingressou em Capricórnio. Maior domínio de Saturno sobre o céu, que já dispõe da maior parte dos planetas. As duas mudanças foram para melhor. Mercúrio deixou um signo que experimentava peregrinação e agora ocupa um local de sua triplicidade noturna. O elemento ar favorece a expressão mercuriana. Vênus deixou de peregrinar por Sagitário e agora goza de triplicidade diurna em Capricórnio, um signo feminino.

Mercúrio formou uma quadratura sem recepção com Marte logo no início de sua jornada por Aquário. Esta é uma configuração ligada a mentiras, enganos e roubo. Agora, Mercúrio se aplica a Saturno, formando uma conjunção exata com o seu planeta dispositor. Saturno recebe Mercúrio em Aquário e os dois planetas costumam se entender. Em locais de baixa luminosidade e horizonte limpo, será possível observar Mercúrio ao lado dos dois cronocratas a oeste. Mercúrio e Saturno são uma dupla ligada aos estudos e ao conhecimento mais aprofundado.

Neste momento, temos um grande trígono envolvendo Vênus e Marte, a partir dos signos de terra que ocupam. Vênus está na exaltação de Marte, enquanto Marte está no domicílio noturno de Vênus. Há uma recepção mútua configurada, que poderia ser melhor em suas representações de Marte não estivesse exilado. A malícia é dissolvida em parte. Concordância e entendimento. Acordos.

Em fevereiro teremos uma aglomeração total de planetas em signos fixos. Um assunto para mais adiante. Os signos cardinais representam movimento e ações. Quando o Sol ingressa nestes signos, muda a estação do ano. Os signos fixos representam manutenção e estabilidade. A plenitude estacional. Os signos bicorpóreos indicam oscilação e dubiedade. A estação do ano começa a enfraquecer e temos manifestações de ambas, vigente e vindoura. Ênfase fixa em fevereiro, em seus predicados e defeitos. A grande aglomeração de Aquário.


Créditos da Imagem: Obra "A Abdução da Europa", de Nöel-Nicolas Coypel, 1726-1727.