terça-feira, 25 de julho de 2017

A Morte de Eloá Cristina - Estudo Astrológico Tradicional

            Esta postagem destina-se ao estudo astrológico, de finalidade didática, acerca da interpretação da carta natal de Eloá Cristina Pimentel, vítima de sequestro e assassinato em 2008, sob a ótica da Astrologia Tradicional e de suas técnicas preditivas pertinentes. A vítima, conforme dados de domínio público, nasceu às 23h40min do dia 05/05/1993, em Maceió-AL. O seu mapa natal pode ser visualizado abaixo:




Eloá nasceu sob um ascendente em Aquário, com Saturno posicionado no último grau do signo ascendente. Saturno rege o ascendente e a casa XII. A carta é noturna e temos a Lua em conjunção ao meio do céu, no signo de sua queda, em Escorpião. Este astro é o Hyleg, planeta doador de vida da natividade. Esta mesma Lua está em oposição partil ao Sol em Touro, angular, no fundo do céu.
Sejam em natividades, figuras horárias ou eletivas, as conjunções, as quadraturas e as oposições formadas pelos luminares são sempre nefastas. Caráter este que é acentuado pelo mau estado cósmico do Sol e da Lua, seja pela debilidade celeste, terrestre ou pela acidentalidade de estarem determinados por regência às casas maléficas ou envolvidos em aflições com os planetas maléficos.
No mapa em tela, percebe-se que a Lua, doadora da vida, está essencialmente debilitada por estar em Escorpião, local de sua queda. A oposição partil com o Sol, sem recepção, aflige-a ainda mais. A regência da Lua sobre a maléfica casa VI termina por sacramentar a sua posição como um astro maléfico acidental na carta analisada.
Cabe lembrar que esta Lua em queda está angular, dando-lhe poder para más significações. A Lua, antes de sair de Escorpião, aplicar-se-á por quadratura a Saturno, reforçando mais um testemunho de seu caráter maléfico. A posição debilitada, em signo de planeta inimigo, reforça seu teor destrutivo e incapaz de ser mantenedora segura da vida doada.
O planeta destruidor da vida é chamado de Anareta. Existem muitas formas de identificar tal significador. Todavia, preferencialmente Saturno ou Marte tem vocação especial a ocuparem tal posição. Outros astrólogos (Morin, por exemplo) recomendam a análise do planeta regente da casa VIII, do dispositor do regente da casa VIII, de planetas na casa VIII, dentre outras indicações. Saturno é o planeta que tem o maior testemunho para ser escolhido como Anareta desta natividade, pois é o maior maléfico natural (pior para os nascidos à noite) e rege uma casa igualmente maléfica e de desintegração, a casa XII. Mercúrio, planeta regente da casa VIII, está peregrino e cadente na casa III, em Touro. Vênus, exilada em Áries, lança uma oposição à casa VIII. Júpiter está posicionado em Libra, signo de sua triplicidade, na casa VIII. Os dois astros benéficos tem algum testemunho sobre a morte da nativa também, sendo co-significadores anaréticos.
O evento violento se deu em outubro de 2008. Neste período estava ativada a Firdaria de Saturno, o Anareta da carta. O subperíodo era o de Vênus, planeta dispositor do regente da casa VIII e com testemunhos sobre a morte da nativa. Em maio de 2008, a Profecção do ascendente chega ao décimo nono grau de Touro. A Lua é regente do ano e o Sol, um importante assistente. Conforme o mapa revolucional abaixo, o Sol e a Lua estão em conjunção no signo de Touro, na casa VIII da Revolução Solar. Este testemunho reativa a configuração tensa que envolve os dois luminares no mapa natal, bem como, traz a casa VIII e o tema morte em evidência para o ano.






Cabe ressaltar, também, que o ascendente do mapa revolucional de 2008 traz em elevação o signo de Libra, lugar de Júpiter natal, que corresponde à casa VIII radical, fomentando a indicação de morte e perigo à vida da nativa. Em complemento, Vênus, sub-regente da Firdaria e co-significadora de morte no mapa natal, ocupa também a casa VIII do mapa de Revolução Solar.
Saturno, o planeta destruidor da vida, ocupa casa XII do retorno solar, reativando sua analogia essencial e acidental, no mapa da nativa, com esta casa. A casa XII significa privação de liberdade e encarceramento. A posição de Saturno corresponde à casa VII natal, indicando que os maiores problemas viriam de parcerias e uniões. Este testemunho confirma a promessa natal, uma vez que o Sol, que fere a Lua, no mapa natal e no mapa revolucional, é regente da casa VII no mapa radical.
Chegando ao topo das técnicas preditivas disponíveis, a análise das Direções Primárias mostra a direção de quadratura da Lua dirigida a Saturno, que teve início um pouco antes do seu último aniversário. Era a direção mortífera, do Hyleg ao Anareta. O melhor candidato a Alcocoden, planeta doador dos anos de vida, de Eloá, era Mercúrio, pois regia os termos do Hyleg. Todavia, os raios de Mercúrio não se projetam sobre seus termos, em Escorpião. Valens afirmava que quando o Alcocoden não lança sua luz sobre o lugar do Hyleg, os anos por ele prometidos são ameaçados e podem não ser cumpridos em sua totalidade. Mercúrio lhe daria 20 anos de expectativa de vida, seus anos menores, caso houvesse a sua guarnição ao Hyleg. Seguindo um outro caminho, Marte poderia ser escolhido como Alcocoden, por ser Almuten do Hyleg. Como planeta maléfico, cadente e sem maiores dignidades e aflições, daria também seus anos menores, 15 anos.




Eloá morreu com 15 anos, 5 meses e 13 dias. Ela foi mantida em cárcere privado (Saturno, casa XII), por motivos passionais e violentos (Vênus em signo de Marte, testemunhando a casa VIII), juntamente com a amiga (Júpiter, regente da casa XI, testemunhando e presente na casa VIII) e acabou por ser executada com um tiro de arma de fogo (morte violenta, conforme vários testemunhos já elencados).No início do evento, por trânsitos, a Lua estava em Áries, ativando Vênus natal, sub-regente da Firdaria. Mercúrio estava em Libra, passando pela casa VIII natal, a qual rege. Marte estava em Escorpião, opondo-se a Mercúrio natal e tensionando a oposição Sol-Lua do mapa radical. Através das direções da profecção, o evento foi disparado quando o grau do ascendente profectado chega a Gêmeos, signo e termos de Mercúrio, senhor da casa VIII natal e faz aspecto de quadratura com Saturno revolucional, em Virgem, na casa XII.
Esta interpretação astrológica nos convida à análise do polêmico tema da morte, inexorável para todo o ser humano, sob o prisma analítico da tradição astrológica. A primeira lição nos leva a considerar o caráter potencialmente destrutivo de planetas maléficos determinados às casas maléficas. Este testemunho torna-se ainda mais poderoso se existe a angularidade. Ficou evidenciado que a dignidade celeste não torna um planeta maléfico menos nefasto em sua simbologia se a sua determinação natal é ruim. Este é o caso de Saturno em Aquário no mapa de Eloá, regente da casa XII e posicionado no ângulo ascendente.
Outra evidência interessante está no potencial destrutivo dos luminares quando ocupam os ângulos de uma natividade e estão em mau estado cósmico. É o caso da Lua da nativa, em queda e regente da maléfica casa VI. A mútua aflição dos luminares, através de seus aspectos de quadratura, oposição e conjunção mostra-se igualmente como um fator negativo, assim como em cartas astrológicas de outras naturezas. Há aforismos que advogam que a presença desafortunada dos luminares nos ângulos pode ser fator predispositor ao suicídio. Eu acrescentaria que tal configuração predispõe, igualmente, à morte violenta de qualquer natureza.
Por fim, comprova-se que quando as técnicas preditivas de alta e média hierarquia anunciam um evento prometido na natividade, por suas ativações simultâneas, a realização deste torna-se completamente factível durante o período analisado. A típica combinação preditiva astrológica medieval, composta pela junção da Firdaria, Profecção e Revolução Solar, somadas ao elevado testemunho das Direções Primárias, mostram acurácia analítica e preditiva extremamente elevadas na prática astrológica.
O refinamento de tempo, que deverá ser buscado dentro do intervalo anual analisado pelo astrólogo, para uma delimitação mensal, semanal e diária do evento prometido, deve dar-se a partir da utilização de técnicas preditivas auxiliares, como as Direções da Profecção do Ascendente, Direções do Ascendente da Revolução Solar, Revoluções Lunares e Trânsitos.
O que pode ser depreendido a partir da análise deste mapa e de outros que realizei cujo falecimento deu-se precocemente através de doenças, é que os testemunhos de morte são muito mais sutis se comparados àqueles nos quais a morte deu-se por causa violenta. Quando se tem esta situação, seja pela morte violenta acidental, causada dolosamente por terceiros ou autoinduzida, observam-se testemunhos mais numerosos e agressivos, envolvendo os ângulos, os planetas maléficos, os luminares, as casas maléficas e seus regentes, seja na natividade, seja na análise preditiva de direções e mapas revolucionais. Em comum, pode ser observado sempre algum ataque ao Hyleg ou o esgotamento dos anos prometidos pelo Alcocoden. Igualmente, as técnicas preditivas trazem à luz pontos nevrálgicos da natividade que estão conectados à morte, como as casas VIII, VII e IV, em destaque, e os planetas de manutenção ou destruição da vida, como o Hyleg, e todos os significadores anaréticos, que são Marte e Saturno, os senhores da casa VIII e os eventuais planetas ocupantes desta casa maléfica.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Direções Primárias - Conceitos Básicos




As Direções Primárias estão dentro do escopo de técnicas preditivas de elevada hierarquia e alto poder preditivo dentro da Astrologia. Eram conhecidas até a modernidade apenas por Direções. Somente após a introdução da técnica moderna de Direções Secundárias é que recebeu a adjetivação que lhe aplicamos atualmente. As Direções Primárias baseiam-se no movimento primário do céu, ou seja, aquele que traz todos os astros do hemisfério oculto do mapa até o ascendente, à luz e ao conhecimento. É o mesmo movimento que igualmente leva todos os astros ao ocaso, deixando a visibilidade e passando à ocultação, a partir do momento no qual cruzam o descendente. O exemplo mais palpável deste movimento é aquele que o Sol faz todos os dias, desde o nascer até o ocaso. O movimento primário do céu é o movimento de rotação da Terra.
Um mapa astrológico não é nada mais do que um registro estático de um céu que está constantemente em movimento. Apesar desta característica, a vida e o tempo seguem seu movimento a partir do nascimento, no caso dos mapas das natividades, por exemplo. É através deste pressuposto que a técnica das Direções Primárias trabalha, fazendo a correlação da progressão do tempo cronológico, do tempo vivenciado pela natividade e da razão temporal dada pelo movimento primário dos céus.
Geralmente as Direções Primárias são apresentadas como uma técnica muito difícil, cujo aprendizado requer anos de prática astrológica. Outros dizem que esta técnica é capaz de prever eventos com precisão milimétrica. Há, ainda, aqueles que advogam a favor de um ou outro software de Astrologia, sendo este, o escolhido pelo Astrólogo, o único que calcula as direções corretamente. Todos estes argumentos estão incorretos no todo ou em parte.
O cálculo das Direções Primárias, sem software astrológico, é realmente complexo. Exige-se conhecimento e domínio de trigonometria esférica e do movimento astronômico do céu. Todavia, como há ampla disponibilidade de softwares de Astrologia com excelente qualidade e fidedignidade, inclusive gratuitos, caso do software Morinus, por exemplo, calcular corretamente as Direções Primárias perpassa pelo conhecimento técnico que permite dirigir os pontos corretos do mapa analisado e pelo domínio das configurações do software, que impede que dados sejam lançados de forma equivocada e falsas direções apareçam para a interpretação astrológica.
Respeitadas as regras ditadas pela Astronomia, pela Matemática e pela Geografia, com suas sistemáticas precisões, pode-se afirmar que, basicamente, a razão temporal das Direções Primárias possui a seguinte equivalência:

Um (01) ano de vida equivale a quatro (04) minutos de tempo cronológico e a um (01) grau de longitude na eclíptica.

Vou exemplificar para que haja maior clareza na compreensão desta relação fundamental. Para isto, utilizarei um exemplo bem simples, do mapa de minha natividade. Ao analisar a carta, é possível observar que o ascendente do mapa está no primeiro grau do signo de Capricórnio e Júpiter encontra-se no sétimo grau deste mesmo signo. Através das Direções Primárias este ascendente será dirigido na razão temporal já mencionada e chegará aos raios de Júpiter em uma data específica, próxima aos sete anos de idade do nativo. Neste caso, teremos a seguinte direção configurada:

Ascendente dirigido em conjunção a Júpiter.





Aqui já se pode definir alguns conceitos. O ascendente é o significador, o ponto dirigido. Júpiter é o promitor, é o ponto para o qual dirige-se o significador. Somente pontos específicos de um mapa podem ser eleitos como significadores. São, em síntese: o Ascendente, o Meio do Céu, a Parte da Fortuna, a Lua e o Sol. A Lunação Anterior ao Nascimento ou Syzygy Ante Nativitatem também pode ser dirigida, principalmente no caso em que a lunação for, por ventura, Hyleg da carta analisada.
Os demais planetas serão sempre promitores e receberão as direções dos significadores: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. O Sol e a Lua podem ser promitores também, desde que estejam recebendo a direção de um determinado significador. Os nodos lunares devem ser considerados como promitores, tal qual ocorre com os astros errantes. As estrelas fixas de maior relevância e significação do céu podem ser interpretadas igualmente como promitores, em situações que envolvam assuntos de toda a sorte, conforme suas naturezas específicas.
As Direções Primárias se dão apenas por aspectos ptolomaicos e por conjunção. A direção exemplificada é de grau extremamente simples, pois envolve um ângulo como significador e um outro planeta como promitor. Outras direções não serão visíveis com tanta facilidade, pois dar-se-ão por aspectos diversos e envolvendo dois astros e, inclusive, com a possibilidade de um astro como o Sol ou a Lua atuarem como promitores.
Cabe ressaltar, ainda, que todas as direções são diretas, dos significadores em relação aos promitores. Não existem direções conversas, dos promitores em direção aos significadores. Cada direção terá o seu início a partir da data exata de sua ocorrência, quando o aspecto que a forma torna-se partil. A direção chega ao fim quando o significador envolver-se por conjunção ou aspecto a outro promitor. Nesta altura, inicia-se uma nova direção.
É preciso desconstruir o mito de que as Direções Primárias estão conectadas à ocorrência de eventos com extrema pontualidade. As Direções Primárias possuem muita semelhança com a Firdaria e esta é uma afirmação irrefragável. Como a Firdaria, as Direções Primárias marcam períodos de média ou longa duração, nos quais os eventos prometidos podem materializar-se. Outra semelhança entre estas duas técnicas previsionais está no alto poder preditivo que ambas possuem, estando em posições hierarquicamente superiores àquelas ocupadas pelas Revoluções Solares e Profecções.
Mas, apesar da extrema relevância astrológica preditiva, uma direção sempre materializará um evento? Não. As Direções Primárias e a Firdaria podem receber analogia com determinações de um governo federal, por exemplo. Há verticalidade no poder e o que está determinado por elas desce em meso e microescala política na natividade. Mas, nem toda determinação federal é aceita e aplicada amplamente sem contestação ou procrastinação nas escalas inferiores. Por isso, quando identificada uma direção, torna-se necessário analisar a Revolução Solar e a Profecção do ano ou dos anos pertinentes.
Por exemplo, configura-se uma direção do ascendente dirigido por quadratura a Marte. No primeiro ano, Marte está fraco na Revolução Solar e a Profecção não lhe concede poder algum. A ativação passará em branco, provavelmente. No segundo ano, Marte está fortalecido na Revolução Solar e é regente da Profecção do ano. Agora, a agenda federal recebe o apoio e a força das esferas médias e inferiores e a chance de materialização do evento predito é extremamente elevada.
E qual será o evento que vai se materializar pelas Direções Primárias? Aqui temos a equação mais complexa desta técnica. Primeiramente é necessário analisar o significador. Eles tratam do seguinte:

Ascendente: corpo físico, saúde, motivações e ações do nativo; 

Meio do Céu: carreira, promoções, mudanças no curso da vida, mudanças de lar, incluindo para lugares distantes e casamentos também; 

Parte da Fortuna: sorte, prosperidade material, saúde e relação íntima com o corpo físico;

Sol: vitalidade, inspiração, o espírito anímico, o brilho, o paterno e também o Hyleg, quando assim estiver configurado;

Lua: emoções e reações primordiais, a alma, o corpo físico, a popularidade, a fama, o materno e também o Hyleg, quando assim estiver configurada.

Após a identificação do significador e suas características essenciais específicas, partimos em direção do promitor. O promitor permeará o possível evento conforme a sua natureza essencial e acidental, enfim, seu estado cósmico e sua relação radical com o significador. Através da análise do promitor nas Revoluções Solares e Profecções e seu grau de concordância ou discordância com os assuntos aos quais está determinado no mapa radical é que se pode ter um diagnóstico preciso de qual tema será materializado, observando sempre o caráter operacional de cada planeta, seja ele benéfico ou maléfico, em bom ou mau estado cósmico e regente de boas ou más casas na natividade. Somente após todo este detalhamento interpretativo é possível dar um prognóstico preditivo preciso.
Estas são as Direções Primárias, sinteticamente. Muito há para dizer ainda, desde as questões mais técnicas até àquelas de natureza menos complexa e mais prática, como as Direções Primárias dos significadores através dos termos planetários ou ainda sobre como configurar o software astrológico, que deve ser utilizado para auxiliar as interpretações astrológicas. Mas, haverá ainda o oportuno tempo para se trazer estas ideias para apresentação e discussão neste espaço. Até breve leitores!