Desde alguns anos atrás, antes de iniciar o período
que vivenciei a partir do meu aniversário de 2018, eu já estava vigilante e
apreensivo diante das configurações astrológicas que ganhavam muito poder em
minha natividade. Em 2016 iniciava para mim a Firdaria de Marte, planeta que
está domiciliado no signo de Escorpião na carta natal, mas que é também um
maléfico que possui regência sobre a casa XII e que está unido por conjunção a
Saturno, outro significador essencialmente maléfico, e oposto à Parte da Fortuna.
Em 2018 a Profecção do signo ascendente chegava ao
signo de Escorpião, elevando Marte à condição de planeta regente do ano. No
mapa de Revolução Solar correspondente, Marte aparecia exatamente na cúspide do
meio do céu, no signo de Sagitário, correspondendo à casa XII natal.
Marte, então, já acumulava três poderes. Era o senhor
do período maior da Firdaria, o planeta regente do ano pela Profecção do
ascendente e o planeta mais angular e poderoso da carta revolucional. Marte
acumularia ainda uma quarta força, pelo fato de ser o senhor dos termos do
ascendente dirigido através das Direções Primárias. Um prato mais do que cheio
para um planeta atualizar as suas promessas natais e materializar eventos
durante o seu período de domínio.
O astrólogo, quando olha o seu próprio mapa natal,
sempre está com a mente recheada de vícios. Não há como ter um grau pleno de
distanciamento para realizar uma interpretação e elaborar predições com a
serenidade e a fidedignidade que lhe são necessárias. Todavia, sempre
experimentamos com nossas natividades, é inevitável. O ideal, e isto vale para
qualquer profissional, é procurar o auxílio de outro profissional que possa
agir com isenção e sem conexão emocional com a nossa natividade. Os médicos
devem ir ao médico. Os advogados devem procurar um advogado. Com os astrólogos
não é diferente.
Mas, a despeito disso, somos artistas de nossa
ciência e sempre vamos enxergar eventos, ainda que desprovidos da perfeição.
Estando ciente de que Marte é um significador essencialmente maléfico, que rege
uma casa maléfica e que está unido a outro planeta maléfico, fica clara a sua
predileção por materializar eventos cujo adjetivo cabível é no mínimo o
desagradável. O bom estado celeste de Marte promete resolução das contendas,
após a instauração dos momentos mais problematizadores.
O primeiro evento materializado pelo pequeno maléfico,
que ocorreu em consonância à entrada de Saturno no signo de Capricórnio, o
ascendente natal, recebendo a configuração de uma conjunção corpórea de Marte,
foi a quebra surpreendente de um dente molar. Bem literal para uma conjunção
das duas infortunas no ascendente saturnino. O evento causou incômodos e dores
durante todo o período devido às dificuldades em me afastar do trabalho para
realizar a extração dentária. Foram necessários medicamentos opioides.
E o tal de 2018 se seguiu. Em férias, no final do mês
de maio, eu praticava ciclismo em uma ciclovia recém inaugurada. Experiente,
com centenas de quilômetros pedalados, não percebi nenhum risco. Um aclive e um
desnível na nova pista combinados à moderada velocidade que desenvolvia na
prática esportiva foram suficientes para me derrubar e danificar e muito o meu
braço direito. Curativos, costela trincada e muita dor por um mês na volta ao
trabalho. Não parei, contudo. A angularidade de Marte, planeta regente do ano,
era um significador que sinalizava positivamente para a ocorrência de
acidentes, resgatando a sua promessa natal de perigos nos deslocamentos.
O período também trouxe a exacerbação das
enfermidades, conforme poderia ser esperado através do processo de
potencialização do planeta regente da casa XII natal. Determinado à casa X
radical pelo aspecto de sextil que lança à cúspide desta casa e pela luz desafiadora
da quadratura aplicada por Mercúrio, planeta regente da casa X natal e
posicionado no meio do céu do mapa revolucional, Marte testemunhava fortemente
sobre a carreira. A época foi marcada pelo maior empregamento de energia na
carreira. Também sinalizou o comportamento mais despojado e arriscado, que se
manifestou através de uma postura mais enfática no ambiente de trabalho. O teor
de agrado não foi unânime e os frutos da antipatia causada pelas minhas
atitudes, por vezes incisivas, também foram semeados nesta época.
Um significador que merece atenção especial para a
análise neste período é Vênus, planeta que governou o subperíodo da Firdaria. A
despeito da ausência de aspecto ptolomaico no mapa natal, Vênus e Marte
formavam quadratura no mapa revolucional, unindo as luzes dos dois senhores da
Firdaria. Vênus é o planeta benéfico menor e a sua natureza essencial é oposta
a Marte. Dentro das possibilidades de seu estado cósmico, Vênus representa
oposição à agenda marcial. Com menor dignidade e autonomia no tema natal e com
poder terrestre inferior na carta revolucional, Vênus não representou o
impedimento da progressão dos males marciais, embora possa ter trazido uma grau
de suavização para os eventos vivenciados. Vênus é o planeta regente da casa VI
natal e sobre o tema das doenças uniu testemunhos a Marte, ainda que com uma
conotação mais doce e supostamente inofensiva sob um prisma mais superficial de
análise.
A grande lição que quero externar sobre este relato
pessoal remete à potencialidade que um planeta possui para significar a
materialização de eventos quando está ativado simultaneamente em diversas
técnicas preditivas. A natureza, a qualidade e a grandeza destes eventos deve
ser aferida a partir do estado cósmico e da determinação natal do planeta
ativado, somados à análise do estado e disposição geral deste planeta na carta
revolucional.
Vênus e Júpiter tem predileção para materializar
agradáveis temas e eventos. Marte e Saturno, ainda que estejam determinados às
boas casas da figura natal, tem afinidade natural com assuntos e acidentes de
caráter desagradável. A mera relação, por posição, regência ou aspecto de Marte
ou Saturno às más casas da natividade abre a possibilidade para a geração de
seus assuntos. Da mesma forma, os dois planetas maléficos encontram afinidade
com os maus assuntos acidentais de casas afortunadas. Contrapondo tal natureza,
Vênus e Júpiter se conectam com facilidade aos bons temas acidentais das casas
desafortunadas. Se possível, dado o seu estado cósmico natal e revolucional,
representarão suavização ou livramento diante dos males mais severos da vida.
Aqui, uma lógica bem moriniana.
Conforme já abordei aqui no blog, a Astrologia está
permeada pelas dimensões do determinismo e do possibilismo. Sabido isto, deve
se ter ciência de que a Astrologia está subordinada à realidade, em todas as
esferas. De posse do conhecimento astrológico, ainda que parcialmente nublado pelas
distorções próprias de uma autoanálise, procurei não me envolver em atividades
de maior risco. Ainda que tenha cometido alguns excessos pessoais, os moderei
logo que possível, diante do conhecimento dos ventos sob os quais estava
determinado. Não pude evitar tudo. Sempre temos uma casa XII que não
vislumbramos tão bem. Mas o ensaio vale a pena. Talvez nunca tenhamos a plena
ciência dos maiores males que conseguimos afastar com nossa atitude pessoal
permeada da maior correção e nem das maiores benesses que atingimos através de
posturas pessoais de igual valor e consciência. Voltaremos a falar muito em
breve da aplicação das técnicas preditivas, da previsão de eventos para as natividades
e sobre o encaixe destas predições nos espectros determinista e possibilista da
Astrologia, aplicados sempre ao plano real de vivência mundana.
Muito interessante. Obrigada por compartilhar
ResponderExcluirGrato pelas palavras, Sonia! Abraços!
Excluireu não consigo ver as imagens nesse post
ResponderExcluirOlá Yuzuru, sejas muito bem vindo! Creio que a plataforma do blogger estava com um problema transitório para realizar a indexação das imagens. Contudo, tal falha parece já ter sido sanada. Abraços!
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