Em sequência à postagem sobre a
Firdaria, abordarei a Profecção e a
Revolução Solar. Estas duas técnicas preditivas formam, juntamente com a
Firdaria, a tríade astrológica preditiva medieval. Comecemos então pela
Profecção. Esta técnica é uma das mais simples e antigas da ciência astrológica
e a sua aplicação deve ser feita em conjunto com a Revolução Solar. Na verdade,
as duas técnicas são complementares e indissociáveis e pertencem à mesosfera hierárquica
preditiva da Astrologia.
A Profecção, que pode ser depreendida
como uma espécie de progressão, é realizada, de praxe, para o signo ascendente
e possui a razão temporal de um signo avançado para cada ano de vida do nativo.
Em termos práticos, se um determinado nativo possui o ascendente natal no signo
de Áries, quando for completado o primeiro ano de vida, o ascendente profectado
chega a Touro e assim avança sucessivamente pelos demais signos zodiacais.
Outros pontos também podem ser profectados, como é o caso do meio do céu e da
Parte da Fortuna. Mas, neste caso específico e devido a sua maior relevância e
aplicabilidade, nos concentraremos na Profecção do ascendente natal.
A cada ano em que o ascendente se
profecta e avança pelos signos do zodíaco, o Sol retorna ao mesmo grau, minuto
e segundo que ocupava quando do nascimento. Quando isto ocorre, um mapa anual é
gerado e recebe o nome de Revolução Solar. Esta técnica fotografa os trânsitos
existentes no exato momento do regresso do Sol e realoca planetas em signos e
casas astrológicas que podem ser iguais, distintos ou coincidir com a posição
de outros planetas na natividade.
A Revolução Solar traz muitas informações
e a filtragem é o primeiro trabalho do astrólogo ao utilizar esta técnica. É
preciso aferir aquilo que realmente é importante para o nativo durante aquele
ano astrológico. Sempre devemos ficar atentos à angularidade de planetas na
Revolução Solar, pois nesta condição os significadores ganham poder de
materialidade em termos de ocorrência de eventos.
É necessário verificar sempre os padrões
de repetição que o mapa revolucional evoca no mapa natal. O astrólogo deve
analisar se existem planetas que retornam as suas posições celestes ou
terrestres natais no mapa revolucional, se estes astros repetem alguma
configuração planetária por aspecto ou regência no mapa revolucional, bem como,
se por sua localização no retorno solar ocupam o lugar que outro planeta
ocupava no mapa natal. A este último fenômeno descrito damos o nome de
ingresso.
A combinação da Profecção com a Revolução
Solar é imprescindível. A partir da sinergia das duas técnicas astrológicas se
chegará a um dos elementos mais importantes do ano astrológico para o nativo: a
escolha do planeta regente do ano.
O processo de eleição do planeta regente
do ano está longe de ser um tema pacificado na Astrologia e as controvérsias e
discordâncias ocorrem frequentemente. Vamos supor que o ascendente profectado
seja Libra. Neste caso, o planeta candidato natural a regente do ano é Vênus,
pois Libra é o domicílio de Vênus.
Entretanto, outros fatores devem ser
levados em consideração. Primeiramente, deve ser analisada a possível presença
de planetas que ocupem o signo profectado no mapa natal. Igualmente, deve ser
verificada esta mesma circunstância no próprio mapa da Revolução Solar.
Existem correntes de pensamento
astrológico que aconselham que seja eleito, como planeta regente do ano, o
astro que por ventura ocupe o signo ascendente profectado no mapa natal. Caso
não exista nenhum planeta neste signo no mapa natal, verifica-se a presença de
planetas neste signo no mapa revolucional. Caso algum planeta ocupe o signo
ascendente profectado durante a Revolução Solar, ele poderá ser eleito regente
do ano.
Em ambas as situações, no mapa natal e
radical, haverá a possibilidade de dois ou mais planetas ocuparem o signo pelo
qual a profecção do ascendente chega. Nestes casos, existem elementos de desambiguação para que o astrólogo proceda à eleição. Os planetas que estiverem
mais próximos do grau ascendente profectado tem preferência, bem como, aqueles
que gozam de dignidade celeste neste local e lancem, seja na natividade ou na
Revolução Solar, o seu testemunho sobre o signo cuja profecção do ascendente se
estabelece.
A minha opinião leva em consideração, de
forma preponderante, o conceito de regência e domínio para que o planeta
regente do ano seja eleito. Não concebo como admissível que um planeta que não
possui relação alguma de domínio sobre o signo ascendente profectado, em pior
hipótese, experimentando estado de contrariedade maior em sua posição celeste,
seja pela condição de exílio ou queda, seja escolhido para governar o ano.
Lembro sempre o exemplo daqueles, que
assim como eu, possuem Júpiter no signo ascendente. Pelo ciclo orbital de
Júpiter, este planeta sempre estará posicionado no signo ascendente profectado
ao longo de pelo menos três de seus ciclos revolucionais, aproximadamente. Considerando que
existe uma tendência de haver o posicionamento de planetas natais em uma porção
inferior à metade dos signos zodiacais, seria extremamente errado pensar que em
mais da metade dos anos vivenciados por estes nativos Júpiter assumiria a
regência do ano por ocupar o signo da profecção do ascendente, ainda que não
goze de dignidade alguma neste lugar. Este exemplo é bastante contundente.
Entendo como precípua a condição de
domínio sobre o signo ascendente profectado para que o astro se sagre eleito como
regente do ano, sendo esta relação denotada pela regência domiciliar ou por
exaltação, prioritariamente. Para efetuar a eleição em possíveis casos nos
quais dois planetas postulantes a regente do ano estejam fortificados na
natividade ou no retorno solar, deve ser escolhido aquele planeta que agregar o
maior número de testemunhos favoráveis a sua eleição, seja pelo grau mais elevado
de dignidade celeste, pela proximidade ao grau do signo ascendente profectado, pela
manutenção de testemunhos ao signo ascendente profectado, ou por sua posição
mais destacada nas cartas analisadas.
Exemplificando, de uma forma mais
didática, o planeta regente do ano deve ser eleito com a observância dos
seguintes critérios técnicos:
1 - Verifique o planeta que rege o signo
ascendente profectado por dignidade celeste de domicílio;
2 - Verifique o planeta que rege o signo
ascendente profectado por dignidade celeste de exaltação;
3 - Analise, no mapa natal e no retorno
solar, qual dos dois planetas mencionados acima está mais fortificado, na
seguinte ordem hierárquica de testemunhos:
a) O planeta ocupa o signo ascendente
profectado, gozando de maior dignidade celeste nesta posição, preferencialmente;
b) O planeta aspecta o signo ascendente
profectado, possuindo maior dignidade celeste em sua posição, preferencialmente;
c) O planeta faz conjunção ou aspecta o
grau do signo ascendente profectado com maior exatidão, possuindo maior
dignidade celeste em sua posição, preferencialmente;
d) O planeta ocupa uma casa angular ou
mais fortificada do que seu concorrente;
e)
O planeta, por sua posição terrestre, está elevado acima do seu concorrente.
Para todos os itens acima elencados, deve
ser dada a prioridade de ocorrência do testemunho no mapa natal e, após, no
mapa revolucional. Quando o testemunho se repete em ambas as cartas
astrológicas, o significador torna-se extremamente potencializado, fato este
que poderá contribuir definitivamente para a sua eleição como planeta regente
do ano. Em caso de testemunhos divididos, a preferência de escolha sempre recai
sobre o regente domiciliar, quando comparado ao planeta que rege o signo por
exaltação.
Os critérios técnicos tem o intuito de
selecionar o planeta que está em melhores condições de sustentar o ano ao
nativo. Apesar desta intenção, é bastante comum que nenhum dos planetas
postulantes à eleição esteja em bom estado cósmico ou ainda haja a condição de
aversão, isolada ou combinada, dos planetas que postulam a regência do ano,
fato este que pode culminar, se não houver testemunhos favoráveis, em um mau
ano para o nativo.
Ainda que eu entenda como fundamental a
relação de regência sobre o signo profectado, a posição de um ou mais planetas
neste signo no mapa natal ou no mapa revolucional, ainda que não gozem de
dignidades neste local, sempre afetará o andamento do ano de alguma forma,
conforme a natureza essencial do planeta e sua determinação radical e revolucional
no período. Do mesmo modo que é dada a preferência aos planetas que regem o
signo profectado por domicílio e exaltação, aqueles que são senhores de
dignidades menores combinadas, caso da triplicidade e do termo, por exemplo,
não podem ser desprezados se possuírem testemunhos fortes que evoquem a sua
eleição em circunstâncias singulares.
A decisão final, observadas todas as particularidades astrológicas pertinentes, caberá sempre ao astrólogo. O regramento é uma
ferramenta que deve auxiliar o profissional de Astrologia para proceder à eleição. Ressalto, ainda, que as regras que proponho aqui não têm a pretensão
de se sobreporem a outros regramentos astrológicos já estabelecidos por outros
astrólogos. A ideia aqui é semear o novo, sintetizar o saber através das minhas
reflexões elaboradas durante muito tempo, sem ferir os princípios que embasam e
norteiam a ciência astrológica.
Com o intuito de ampliar
a didática deste procedimento de eleição, vamos a um exemplo mais prático,
através da análise de uma carta natal e um mapa de Revolução Solar pertinente,
com a Profecção aplicada e combinada. Segue abaixo os mapas astrológicos para
avaliação:
A primeira carta apresentada é o mapa
natal e a segunda se trata do mapa de Revolução Solar que tem o seu início no
mês de abril de 2017, no aniversário do nativo, que é do sexo masculino. O
nativo possui ascendente em Escorpião e, no ano analisado, este ascendente se
profecta para o signo de Câncer, na sua trigésima segunda profecção.
Aqui já podemos vislumbrar uma interessante
e poderosa sinergia, quando agregamos o estudo da Profecção com a Revolução
Solar. O ascendente profectado é Câncer, mesmo signo que aparece no ascendente
do mapa do retorno solar. Este testemunho acaba por elevar os temas que
correspondem ao signo, casa e seus planetas regentes no mapa natal e no mapa
revolucional.
Câncer ocupa a casa IX natal e não há
nenhum planeta posicionado neste signo no mapa natal. No mapa de Revolução
Solar, Câncer está no ângulo ascendente e não há planetas ocupando este signo
zodiacal, igualmente.
O signo de Câncer tem como o seu regente domiciliar a Lua e Júpiter por exaltação. No mapa natal, a Lua está em
Capricórnio e aspecta o seu signo através de uma oposição. Em Aquário, Júpiter
não enxerga o signo de Câncer no mapa radical. No mapa revolucional, Lua e
Júpiter formam uma conjunção no signo de Libra, na casa III, e aspectam o signo
profectado através de uma quadratura.
O signo ascendente profectado ainda
recebe os testemunhos do Sol, por quadratura, a partir de sua posição em Áries
e na casa IX, de Vênus, através de um trígono a partir de sua colocação no
signo de Peixes, na casa VIII e de Marte, desde o seu local no signo de Touro,
na casa XI, sendo todas estas posições correspondentes ao mapa do retorno solar.
Sendo estes os testemunhos, vamos ao
processo de eleição. Os planetas que postulam tal posição são a Lua e Júpiter.
Nenhum dos dois astros ocupa o signo de Câncer, seja no mapa natal ou no mapa
revolucional. Por aspectar o signo de Câncer no mapa natal e no mapa revolucional,
a Lua ganha pontos a mais do que Júpiter neste momento. Júpiter aspecta o grau
do signo ascendente profectado com maior exatidão. Leve vantagem para Júpiter
aqui. Júpiter ocupa uma casa angular no mapa natal e uma casa cadente no mapa
revolucional. A Lua ocupa em ambas as cartas uma casa cadente. Outra vantagem
para Júpiter. A Lua está elevada acima de Júpiter no mapa natal e levemente
mais elevada na carta revolucional acima de Júpiter. Pontos para a Lua.
Como pode ser aferido, os testemunhos levam
ora a um e ora a outro astro. Não há vantagem explícita e clara. No caso
apresentado, elejo a Lua como planeta regente do ano. Por se tratar do planeta
regente por exaltação e agregar importantes testemunhos no processo eletivo,
elejo Júpiter como planeta Co-Regente do ano. Estes dois astros trarão
significância e materialidade ao ano, em termos de eventos.
A preferência pela Lua, enquanto astro
eleito para governar o ano, foi calcada, observada uma disputa equilibrada pela
eleição, na sua condição de regente domiciliar do signo ascendente profectado.
Conforme já abordado, o planeta que possui dignidade de domicílio tem
preferência sobre aquele que dignifica-se neste local por dignidade de
exaltação, em disputas equilibradas.
No ano em análise, o nativo completava
seus 32 anos de vida e iniciava o período da Firdaria de Marte, astro este que
é o próprio planeta regente do ascendente da natividade. Marte, que no mapa
radical está angular e em detrimento no signo de Touro, na casa VII, retorna ao
seu signo natal e ocupa novamente uma casa angular, desta vez a casa X.
Conforme já explanado, o ascendente
profectado chega à casa IX radical e este mesmo ascendente se repete no
principal ângulo do mapa da Revolução Solar. A Lua, planeta regente do ano,
dispõe de Marte por exaltação, no mapa natal e no mapa revolucional.
Júpiter, planeta co-regente do ano, está
posicionado na casa IV natal. No mapa de retorno solar, Júpiter recebe a
conjunção da Lua, sendo que ambos os planetas ocupam a casa III revolucional.
Júpiter rege a casa V natal, tema este que atualiza por regência na Revolução
Solar. Convém ressaltar que Júpiter rege a Parte da Fortuna no mapa natal, que
está posicionada no signo de Peixes e na casa V radical.
Após aferidos os testemunhos, podem ser
identificadas algumas importantes particularidades para o período em questão. A
dupla ativação do ascendente, pela Profecção e pela Revolução Solar, no signo
de Câncer traz elevada importância para a Lua e Júpiter durante o período. O
ascendente, profectado e revolucional, em signo extremamente fértil eleva a
fertilidade para o nativo. A ativação de dois astros que propiciam a geração de
filhos e que versam essencialmente sobre fertilidade e crianças corrobora com a
realização deste tema natal. Júpiter, ao co-reger o ano, aliar-se à Lua e
atualizar a sua determinação sobre a casa V, ao regê-la no mapa revolucional,
conforme o faz no mapa natal, favorece e muito a fertilidade e a geração de
crianças.
No mês de maio, do referido ano, o nativo
descobriu que seria pai. Este fato veio a concretizar-se no mês de março do ano
subsequente, dentro do período de regência anual da Lua, com a co-regência de Júpiter.
Este frutífero período ainda reservou um
outro evento muito positivo. Um pouco antes de receber a notícia de sua
paternidade, o nativo foi nomeado e empossado em outro cargo público para o
qual aguardava acesso, aumentando a sua renda familiar.
Marte, planeta senhor da Firdaria e
regente maior do nativo, retornava a sua posição celeste radical, no signo de
Touro, ocupando a casa X da Revolução Solar. De fato, o nativo agiu com muita
autonomia e tomou decisões que permitiram optar por este novo emprego, ainda
que o conduzisse a uma nova situação laboral, cheia de incertezas e perpassando
novamente por um período probatório de estágio.
Ao ocupar o signo de exaltação da Lua,
Marte significou a atitude firme no sentido de buscar o aumento da prosperidade
material. A Lua, posicionada na casa II natal, fala de seu testemunho acerca
das finanças. Júpiter, por sua vez, sendo um astro benéfico e senhor da Parte
da Fortuna natal, acabou por materializar a melhora das condições financeiras e
também a marca da sorte geral para o ano, enquanto astro benéfico maior que é.
Chega ao fim este estudo
acerca da Profecção e da Revolução Solar, com a combinação essencial da
Firdaria. Nesta postagem foi possível esclarecer os principais pontos que
norteiam a interligação destas técnicas preditivas, que formam, conforme
exposto no início deste artigo, a tríade astrológica preditiva medieval. A
exposição do rito de eleição do planeta regente do ano visa o convite à
reflexão deste processo, bem como, a proposição de um regramento mais acessível
para estudantes e astrólogos que buscam informações sobre este tema e não obtém
sucesso para encontrar artigos que lhes orientem de maneira clara e precisa.
Espero ter atingido estes objetivos. Até breve leitores!