Um tema muito interessante e que sempre
gera muitas dúvidas nos astrólogos e estudantes de Astrologia é aquele que
aborda o planeta dominante em uma determinada carta natal. Primeiramente, devo
ressaltar que existem diversas formas pelas quais um planeta torna-se dominante
em um determinado mapa astrológico. Em cada uma das circunstâncias elevadoras
de poder dos planetas há uma representação diversa e específica a ele atrelada.
Cada supremacia planetária possui uma finalidade específica na interpretação
astrológica, dentro do contexto do mapa natal analisado.
Por exemplo, qualquer planeta que esteja
angular em uma determinada natividade está forte. Os planetas que, porventura,
estejam em conjunção aos ângulos ascendente, meio do céu, descendente e fundo
do céu em um mapa natal tem grande poder de representação na vida do nativo. A
ordem dos ângulos aqui está disposta em poder decrescente, conforme o poder intrínseco à cada ângulo, embora o poder do meio do céu para determinados
assuntos, que não estão ligados diretamente ao indivíduo em si mas a sua
elevação no mundo e fama, possa ser superior ao do próprio ascendente em muitos
casos. A presença de um planeta em uma casa angular, ainda que não esteja em
orbe de conjunção a um dos quatro ângulos do mapa, dá igualmente força e poder
de materialização de sua natureza essencial e acidental.
Um planeta angular tem a força necessária
para materializar na vida do nativo os assuntos que estão sob a sua regência
essencial e acidental. Diz-se que um planeta angular tem o poder de realizar a
totalidade de sua promessa natal. Um planeta quando posicionado no ascendente
de uma natividade traz a natureza planetária diretamente à personalidade, ao
temperamento e ao modo de agir do nativo. Nesta posição, o planeta torna-se um
candidato forte para ser eleito o Senhor das Maneiras da genitura, conforme já
foi explanado em postagem anterior sobre este tema. Quando colocado no meio do
céu, o planeta imprime a sua marca na carreira, fama e ações do nativo. Havendo
a presença de um planeta na décima casa é muito provável que a vida
profissional do indivíduo seja largamente marcada pela natureza deste planeta.
De qualquer forma, um planeta posicionado
em qualquer um dos ângulos, sendo o ascendente e o meio do céu os mais proeminentes,
lançam aspectos a todos os outros ângulos do mapa natal. Sendo assim, o planeta
influencia pelos seus aspectos as bases mais importantes da natividade. Deve
ser esquecido, neste momento, os assuntos específicos das casas angulares para
o entendimento dos ângulos enquanto sustentáculos de qualquer mapa astrológico.
A razão pela qual os planetas se tornam poderosos e influentes aqui não tem
relação com a importância dos assuntos regidos pelas casas angulares, mas pelo
fato dos ângulos serem os eixos dorsais do mapa astrológico, por representarem
o nascer, a culminação, o ocaso e anteculminação de todos os astros errantes. O
caráter preponderante dos ângulos se deve ao fator terrestre e primário do
movimento do céu, precipuamente.
A angularidade de um planeta e a sua
força concedida não podem ser confundidas com potencialidade benéfica. Um
planeta em exílio ou queda pode estar em uma casa angular e sua força estará
permeada da falta de dignidade celeste experimentada pelo planeta. Este mesmo
planeta pode estar envolvido em maus aspectos, aflito de qualquer forma ou
reger casas maléficas na natividade, fatos que atestam que a angularidade
poderá significar muitos problemas ao nativo neste caso.
Outra forma pela qual um planeta pode
tornar-se dominante em uma natividade é através da regência e disposição de
diversos outros planetas e pontos no mapa natal. Por exemplo, em um tema natal
que vários planetas ocupem os signos de Capricórnio e Aquário, Saturno distribuirá
a sua influência em múltipla escala, influenciando os assuntos dos planetas que
estão por ele dispostos.
Quando um planeta dispõe de muitos outros
planetas e pontos importantes em uma genitura, ele pode ser o Almuten Figuris
da natividade. Este planeta sagra-se vencedor após um longo processo de eleição,
que leva em consideração critérios celestes, terrestres e referentes ao dia e
hora de nascimento do nativo. Para estudar o cálculo do Almuten Figuris,
especificamente, sugiro uma visita ao sítio eletrônico do astrólogo Paulo
Silva: www.astrologiamedieval.com.
Todavia, quando um planeta é regente múltiplo de outros planetas e pontos
importantes da natividade, sobretudo os pontos hylegíacos, que são o ascendente,
o Sol, a Lua, a Parte da Fortuna e a Syzygy Ante Nativitatem, é grande o
testemunho de que este planeta seja o Almuten Figuris da natividade.
Este planeta representa uma outra forma
de dominância sobre o nativo. O Almuten Figuris representa o ponto mais
psicológico e imaterial da Astrologia Tradicional. Pode-se dizer que este
planeta também simboliza o elo mais primordial entre o nativo e o divino. Tal
planeta representaria a energia guardiã da natividade, inclinando o nativo a
comportamentos de repetição para fins protetivos.
Todavia, esta proteção primária, guardiã,
eu diria, não pode ser considerada benéfica ou maléfica em essência. Sua
qualidade é completamente variável e obedece a todos os critérios de avaliação
de um planeta em uma natividade para que sua representação de influência possa
ser considerada benéfica ou maléfica, de acordo com o seu estado cósmico
analisado. Um dos fatores diferenciais do Almuten Figuris é que a eleição pode
recair sobre qualquer um dos sete astros errantes e, muitas vezes, sobre
planetas que não gozam de dignidade celeste robusta ou posição celeste
poderosa. É uma forma de dominância que pode ser dicotômica, em muitos casos, à
dominância planetária pela angularidade em uma carta natal.
Um outro conceito de dominância que foi
introduzido na Astrologia Tradicional, no período renascentista, notoriamente
pelo astrólogo Willian Lilly, é o de Senhor da Genitura ou, no idioma inglês, "The Lord of The Geniture". Conforme critérios técnicos, que envolvem a atribuição ou
abatimento de pontuação conforme as dignidades e debilidades celestes e
terrestres, considerando ainda a combustão, a retrogradação, a velocidade, os
aspectos com planetas benéficos e maléficos e com estrelas fixas.
Inevitavelmente, a eleição recairá sobre o planeta que estiver melhor
posicionado no mapa, considerando o número de dignidades essenciais e
acidentais que possui e o mínimo de perda destas pelos fatores debilitantes
(combustão, retrogradação, movimento lento, aspecto com planetas maléficos,
etc). No entendimento deste astrólogo que aqui escreve, tal planeta apenas
sinaliza que os assuntos a ele determinados serão resolvidos a contento, com um
possível elevado grau de realização. Os períodos de ativação preditiva deste
planeta podem ser positivos, igualmente. Todavia, tal astro não possui uma
relação de dominância sobre a carta ou o nativo, salvo nos casos que estiver
angular ou for o Almuten Figuris da natividade, por exemplo.
Um conceito de dominância contemporâneo que surgiu em muitos livros de Astrologia Moderna é o de dispositor final.
Seguindo este entendimento, quando há apenas um planeta domiciliado e este
planeta dispõe de um ou mais planetas, formando uma cadeia de disposição
planetária, diz-se que o mapa analisado possui um dispositor final. Apesar da
lógica inerente ao conceito, sabe-se que na práxis astrológica pode ser
observado com certa facilidade que a esfera de influência está ligada,
principalmente, pelo planeta responsável por determinado assunto e seu
dispositor. Admite-se, ainda, a influência do dispositor secundário, ou seja, o
dispositor do dispositor para a análise de determinado tema na natividade. Além
disso, a esfera de influência torna-se muito distante e um planeta que não
possua ligação direta com o planeta analisado ou com seu dispositor, terá pouca
ou nenhuma significância de análise para a resolução ou não de qualquer assunto
que esteja sendo interpretado em uma figura natal.
Um outro conceito moderno, o de planeta
focal, encontra sustentação em fundamentos tradicionais de Astrologia. Para a
Astrologia Moderna, é considerado um planeta focal aquele que envolve-se com
diversos planetas por seus aspectos. De fato, um planeta que atue em uma carta
natal desta forma, lançando e recebendo múltiplos aspectos, conectar-se-á a
muitos temas da natividade, encontrando aqui a similaridade de dominância com
um planeta que possua regência sobre muitos planetas ou pontos importantes em
um mapa natal.
Enfim, sempre há muito o que dissertar
sobre os planetas dominantes e de fato o tema é extenso. Conforme se pode
concluir, um determinado mapa natal pode possuir mais de um planeta dominante,
respeitados os tipos e formas de dominância que um planeta pode exercer em uma
natividade.